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  • Foto do escritorRachel Serodio

Por que o movimento feminista é constituído por múltiplos feminismos e por que isso é bom?


Como mulheres, compartilhamos alguns problemas; outros, não. Vocês temem que seus filhos cresçam, se unam ao patriarcado e deponham contra vocês; nós tememos que nossos filhos sejam arrancados de dentro de um carro e sejam alvejados no meio da rua, e vocês darão as costas para os motivos pelos quais eles estão morrendo.

(Audre Lorde, in: “Idade, raça, classe e sexo: as mulheres redefinem a diferença”, p. 148)


Quando nos definimos, quando defino a mim mesma, o lugar em que sou como você e o lugar em que não sou como você, eu não a estou impedindo de unir-se a mim – estou ampliando suas possibilidades de união.

(Audre Lorde, em entrevista para The Feminist Renaissance)


Em primeiro lugar, é importante dizer que o movimento feminista, ao longo da história, percebeu e organizou a sua luta considerando a condição social desigual e injusta das mulheres na sociedade patriarcal. Como foi possível constituir uma sociedade nestes termos? Por meio do monopólio do poder e da violência — detidos, com exclusividade, pelos homens —, de modo que podemos afirmar que uma das características da sociedade patriarcal é a exclusão das mulheres de todos os espaços de organização desta sociedade.


É com o objetivo de alterar essas desigualdades e injustiças, e de criar uma nova sociedade em bases distintas, que o movimento feminista existe.


Porém, desde o momento em que o capitalismo se constituiu como modo de organização política-econômica-social, a sociedade patriarcal se transformou e as relações sociais se complexificaram com o objetivo de intensificar a exploração econômica da classe trabalhadora. Assim, as opressões da ordem do gênero, da sexualidade, da raça, e outras, foram operacionalizadas para melhor servir à ampliação e à reprodução do capital. Por meio dessas opressões singulares, cada uma com as suas especificidades, a organização capitalista estratificou a classe trabalhadora entre homens e mulheres, brancos e negros, cis e trans, trabalhadores do Norte e do Sul global etc., impedindo uma composição entre todos esses estratos pauperizados e explorados economicamente.


Em razão disso, no que diz respeito ao movimento feminista, embora a classe de mulheres compartilhe algumas condições sociais desiguais e injustas, também está dividia tanto economicamente quanto racialmente. Impõe-se, assim, no campo da resistência e da luta, a necessidade da multiplicação dos Feminismos, pois a opressão de gênero opera em cada um desses estratos com particularidades — e é exatamente isso que o movimento Feminista Negro nos ensina.


Consequentemente, o que parece indicar uma separação que supostamente enfraqueceria a luta das mulheres, na verdade a coloca de uma maneira muito mais completa diante do problema social, uma vez que, se o capitalismo não é constituído apenas pelo processo de desigualdade econômica e social, mas, também, pelos processos engendrados pelo patriarcalismo e pelo racismo, a luta precisa ser constituída tendo em perspectiva o enfrentamento de todos esses processos.


Assista a live "Sistema de justiça brasileiro: Patriarcado x Feminismo Negro" com Viviana Ribeiro e Mãe Flávia Pinto


Todas às quintas-feiras, 19h, no instagram @ipiacomunidade, realizamos conversas sobre os assuntos abordados no curso Formação Feminista Antirracista: Política e Direito.

As professoras Rachel Serodio & Viviana Ribeiro, querem lembrar que faltam poucos dias para o início da nossa turma do curso Formação Feminista e Antirracista: Política e Direito. Esse ano limitamos o número de alunas para que tenhamos uma melhor experiência nas aulas e debates. Se você ainda não garantiu a sua vaga, inscreva-se para não ficar de fora. Esperamos você!

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RIBEIRO, Viviana. Por que o movimento feminista é constituído por múltiplos feminismos e por que isso é bom? In: IPIA - Comunidade de Pensamento. Blog do IPIA. Rio de Janeiro, 24 mar. 2021. Disponível em: https://bit.ly/3vYEQGE


VIVIANA RIBEIRO é professora e cofundadora do IPIA - Comunidade de Pensamento. Doutoranda pelo Programa de Pós Graduação em Direito da PUC-RIO. Mestra em Filosofia pelo Programa de Pós Graduação em Filosofia da Universidade Federal Fluminense (PFI/UFF). Possui graduação em Direito pelo IBMEC. Pesquisadora egressa do Grupo de Estudos Comparados de Literatura e Cultura (GECOMLIC/UFRJ), coordenado pelos prof. Dr. Eduardo Coutinho e prof.ª Dra. Monica Amim. Integrante do Grupo de Trabalho Deleuze da Associação Nacional de Pós-graduação em Filosofia (GT- Deleuze/ANPOF). Integrante do Ciclo de Leitura Espinosa, PUC-Rio.

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