“Quem o Direito só sabe nem o direito sabe” - San Tiago Dantas
- Rachel Serodio
- 8 de mai. de 2024
- 2 min de leitura

A ascensão da advocacia feminista como um espaço de luta dentro do sistema de justiça é, sem dúvida, mecanismo de avanço significativo na busca pela garantia dos direitos das mulheres e consequentemente, instrumento pela igualdade de gênero. No entanto, é importante que questionemos condutas de apropriação de narrativas sem o conhecimento histórico social essencial para esta atuação.
“Quem o Direito só sabe nem o direito sabe”, frase do jornalista e professor San Tiago Dantas (1911-1964), ressoa como um marco essencial para compreendermos não apenas o papel político de emancipação das mulheres, mas também a resistência humanística necessária nessa luta. Contudo, hoje em dia, nos deparamos com a manifestação do patriarcalismo moderno na busca de protagonismo por parte de advogados homens, que se autointitulam “advogado das mulheres”, assumindo o papel de “homens salvadores”. Isso nos instiga a questionar não apenas a legitimidade de sua atuação, mas também seus verdadeiros lugares e papeis no âmbito do direito.
Dentro desta perspectiva, nos deparamos com o cenário constrangedor de vermos mulheres vulnerabilizadas sendo cooptadas pelo marketing deste discurso e em contrapartida, percebemos o movimento crescente de advogades, sem qualquer conhecimento ou prática de advocacia feminista “sendo atraídes” e se autoproclamando como atuantes nessa área, tratando-a como apenas mais um nicho de mercado.
A forma que o capital se apodera das pautas feministas é corriqueira. Mulheres desamparadas por viverem relacionamentos violentos acabam por seguir a mesma linha de subjetivação e acreditam que advogados homens salvadores “lutarão” por elas, reproduzindo o conhecido “complexo de Cinderela”, que precisam ser defendidas por um homem.
Esse fenômeno reflete não apenas a persistência do heterocispatriarcado moderno em nossas práticas cotidianas, rotineiras, bem como nas instituições. É desta maneira que o sistema privilegia a voz, presença e a autoridade masculina, mesmo em espaços que supostamente foram criados para desafiar essas estruturas de poder.
É inegável que a presença masculina na advocacia com perspectiva de gênero é um aliado importante, seja ampliando o alcance de sua importância, seja trazendo diferentes perspectivas para o debate. Mas jamais na advocacia feminista.
Deixamos aqui um recado às mulheres que nos seguem e que se encontram em momento delicado de suas vidas: busquem advogadas feministas conhecedoras do sistema para além do direito em si.
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